Coluna do Cruzeiro com Ricardo Antunes - NL SPORTS - 18/09/2025
Sim, já podemos comemorar. Temos mais motivos pra festa. Evolução do futebol feminino. Leia mais na coluna do Cruzeiro com Ricardo Antunes.
Por Ricardo Antunes
18 de Setembro de 2025 às 15:10
Sim, já podemos comemorar.
Essa pode parecer uma dessas chamadas sensacionalistas que vemos aos montes em redes sociais e vídeos do Youtube, mas esse não é o caso aqui. O objetivo dessa coluna sempre foi ter um pé no chão e principalmente, ser algo além da análise do jogo/resultado da última rodada, o que em tempos de internet, já está ficando um pouco saturado. Então minha intenção aqui é ir além do momento do Cruzeiro. Dito isso, acho que sim, o Cruzeirense já tem motivos de sobra para comemorar.
Vou só voltar um pouquinho no tempo. No início desse ano tínhamos um treinador e um diretor de futebol (ou CEO, como o ego dele preferia) que eram mais passado que presente. E pagamos o preço desse atraso, apresentações pífias, um elenco caro que não se encaixava, sem nenhuma esperança de melhora e a expectativa de mais um ano difícil.
Aí surgiu Leonardo Jardim, um técnico português desconhecido da maioria dos torcedores, que chegou sendo sincero sobre a forma de jogar, sobre expectativas no ano e principalmente sobre o elenco que encontrou.
A partir daí, foi trabalho e nada de frases feitas para torcida, nada de entrar em badalação de mídia ou cair em pegadinha de entrevistador. Jardim se manteve fiel ao que disse, ao que prometeu. E esse trabalho todo deu frutos. Não estamos mais nos anos 80, 90. Não podemos mais contar com um Alex, Dida, Palhinha, Muller, Clebão, Valdo, Marcelo Ramos e por aí vai. Não existem mais craques que tem talento e personalidade para praticamente ganharem a taça sozinhos.
Então o que existe hoje é jogo coletivo, é entrega, disciplina, é encontrar os melhores jogadores à disposição no mercado, mas principalmente, encontrar um técnico que consiga fazer esses jogadores renderem ao máximo coletivamente. E como Jardim sempre diz, só se chega a esse resultado através do trabalho. Ele conseguiu montar um time forte, unido, competitivo com o elenco que encontrou, com jogadores que praticamente ninguém acreditava mais que conseguiriam render. E pelo que vimos, seus pedidos de reforços não foram “para constar”, pelo menos as primeiras impressões foram ótimas.
Então, temos sim muitos motivos para comemorar, o Cruzeiro não tinha essa estabilidade, essa curva ascendente e permanente desde o início de 2019. Cabe agora ao torcedor cruzeirense apoiar, incentivar e aproveitar esse momento. Não ganhamos nada ainda, mas pode ter certeza, se continuarmos com esse espírito coletivo, esse trabalho sério e permanente, as taças estão mais próximas que nunca, é só questão de tempo.
Quer mais motivos para festa? Temos.
Não podemos esquecer de um outro time que não para de crescer e que tem dado muitos motivos de orgulho, as Cabulosas. Mesmo perdendo a final do Campeonato Brasileiro feminino para o Corinthians, que chegou ao seu sétimo título da categoria, sendo 6 nos últimos 6 campeonatos, as Cruzeirenses também saíram vencedoras. Pela primeira vez o Cruzeiro chegou a uma final do Brasileirão feminino e pela primeira vez vai participar da Libertadores feminina, no ano que vem. Aqui no Brasil o segundo lugar, o vice é mais visto como o primeiro dos piores que o segundo melhor.
E é justamente isso que atrapalha a evolução não só do futebol feminino, mas da maioria dos esportes praticados no país. Porque chegar a um título, a uma medalha, começa com um bom planejamento, com investimento, com apoio e com um trabalho a longo prazo. Muitas jogadoras do Corinthians, nas entrevistas pós jogo, falavam que só tinham conseguido chegar ao título por causa da estrutura, do respeito e do apoio que o time deu a elas. E as do Cruzeiro também fizeram questão de dizer que somente tinham chegado ali porque receberam o mesmo tratamento. E várias deram a entender que o futebol feminino no Brasil não dá essa mesma importância para a categoria. E isso é culpa de todos.
O Brasil sempre teve seus modismos, quando Airton Senna era campeão todos adoravam F1, quando o vôlei de Bernardinho ganhava tudo, todos eram “do vôlei”, viramos um país de tenistas quando Guga se tornou campeão e por aí vai. Sem contar a pátria olímpica quando começam os jogos olímpicos. Depois tudo passa, e os atletas que se virem.
No futebol não é diferente, são horas e horas falando do gramado, do passado glorioso desse ou daquele time ou jogador, da volta de treinador A ou jogador B, tudo sobre o masculino. Nenhuma palavra sobre o que o time feminino precisa, horário e condições do campo que vai jogar, se contratou, etc. Isso só vai mudar com a participação de todos, dirigentes, torcida e principalmente grande parte da mídia, que prefere cair no raso e fácil falar do passado que subir para o andar do discutir o agora e do amanhã. Mas apesar disso, elas continuam lutando, elas continuam vencendo, elas continuam mostrando que futebol, foi, é e sempre será também das mulheres.